Em entrevista à Bernard, Bernie Keys, fundador da ABSEL (Association for Business Simulation and Experiential Learning), maior associação mundial sobre simulação de negócios, comenta sobre sua experiência com simulação gerencial e o futuro da metodologia.
Quando e como foi sua primeira experiência com o método de jogos de empresas?
Bernie Keys – Minha primeira experiência com jogos de empresas (eu gosto de chamá-los de simulações) foi em 1965 na Faculdade David Lipscomb em Nashville, Tennessee (agora Universidade de Lipscomb). Eu lecionava cinco disciplinas para os mesmos estudantes naquele ano. Sabia que minha efetividade como instrutor logo iria se deteriorar. Assim, usei a estratégia de ministrar aulas expositivas aliadas à técnica de abordagem vivencial. Usei um jogo de empresas manual chamado “Marketing in Action – (MIA)”. O jogo tinha entre seis e dez variáveis, simulando um detergente de lavanderia. Este produto tinha três características e o jogador tinha que escolher uma entre dez variações destas características. O jogo era facilmente conduzido, completando um relatório impresso que, uma vez preenchido, levava das vendas ao lucro. Os relatórios de demonstração de resultados do exercício, bem como o balanço patrimonial, tinham que ser completados manualmente usando um modelo similar. O jogo funcionou muito bem e permitiu que eu levasse uma equipe para participar da competição “The Executive Game” na Emory University. Este jogo rodava em um mainframe, provavelmente um IBM 360, onde os participantes tomavam oito decisões estratégicas. Minha equipe da universidade de Lipscomb ganhou um prêmio, um bonito troféu, e foi destaque na seção de negócios do jornal “The Nashville,Tennessean.” Nossos pais e apoiadores ligaram durante dias. Eles pensaram que nós tínhamos realmente ganho os milhões de dólares mencionados pelo repórter.
Por que você decidiu criar, em 1974, a Association for Business Simulation & Experiential Learning (ABSEL)?
Bernie Keys – Terminei minha dissertação sobre simulação de negócios em 1969. A dissertação foi um dos motivos para criar a ABSEL. Um segundo motivo foi que eu desenvolvi e comercializei um simulador. O terceiro motivo foi o fato de que eu era muito atuante na área de simulação. Por exemplo, durante 13 anos participei, como tutor de equipes, de competições nacionais acadêmicas. Estas competições foram realizadas na Emory University School of Business em Atlanta, Georgia.
Os trabalhos acadêmicos, e o contínuo trabalho com jogos e simulações, me permitiram lançar simuladores no mercado. Vislumbrei então realizar um encontro onde as pessoas pudessem apresentar artigos. Mas um problema surgiu: Eu não tinha reputação e ensinava e coordenava uma divisão de uma pequena escola privada em Oklahoma. Quem viria a este encontro? Resolvi o problema chamando acadêmicos e instrutores empresariais bastante conhecidos na área e pedi a eles que definissem o tema central do encontro, como seria apresentado na chamada para submissão dos artigos.
Chamei Stan Vance, da Universidade de Oregon e autor de um jogo para executivos. Stan Vance disse sim e deste modo fui encorajado a chamar Ralph Day da Universidade de Indiana, autor do jogo de empresas MIA, mais vendido do país, e do qual falei anteriormente. Novamente a resposta foi positiva. Então eu chamei Richard Barton autor do “Imaginet”, uma simulação em que as equipes podiam escolher diferentes produtos para produzir e comercializar. Eu acho que chamei mais um ou dois. Duane Hoover vinha escrevendo sobre abordagem vivencial. Ele veio ao encontro para apresentar um artigo e mais tarde tornou-se presidente da ABSEL. Eu também convidei Douglas Bray, diretor de treinamento na AT&T e autor do famoso in-basket teste, usado largamente para selecionar pessoas para posições gerenciais.
Mais de 150 pessoas vieram para o pequeno campus da Oklahoma Christian College (OCC), onde tínhamos um excelente prédio e os alunos estavam fora até o outono (período de retorno das aulas nos Estados Unidos) Os participantes foram transportados para a OCC em um ônibus escolar e houve 100% de presença nas apresentações dos artigos, pois não havia alternativa. Eu fornecia o almoço no campus e o jantar também era oferecido, mas já no hotel. Acho que ninguém chamou um taxi para ir ao centro da cidade de Oklahoma, poucas milhas distante.
Quais foram as principais contribuições da ABSEL para o ensino e pesquisa usando jogos de empresas?
Bernie Keys – A principal contribuição da ABSEL, desde o seu início em 1974, foi de servir como um fórum e reunião para renomados professores e instrutores em simulações, jogos e exercícios vivenciais. Nós não apenas gostávamos de simulações e exercícios vivenciais, nós “os amávamos e os vivíamos” mais que textos ou livros. Era difícil determinar onde Ralph Day ou Richard Barton concluíam e suas simulações começavam. Stan Vance, que mudou para outros interesses profissionais, uma vez disse “O interesse de Bernie Keys em simulações não tem fronteiras”. Ele provavelmente estava correto.
Analisando as pesquisas sobre simulações, jogos e aprendizado vivencial, nós verificamos que quase todos os aspectos do comportamento em negócios tem sido estudado. Além disto, com as pesquisas e apresentações de Joe Wolfe, e outros autores, nós aprendemos que aulas expositivas e simulações, ou exercícios vivenciais, produzem aprendizado em negócios superior do que com aulas expositivas apenas. Nós também aprendemos que simulações e jogos não são efetivos quando usados sem a orientação de um instrutor; e são mais efetivas quando reforçadas com tradicionais textos e aulas expositivas em sala de aula. Nós aprendemos que importantes fatores de sucesso em desempenho tais como vendas ou lucratividade nas simulações e jogos, por equipe, não estão necessariamente relacionados com sucesso em aprendizagem dos participantes das equipes. Como na vida real, equipes às vezes têm sucesso sem entender como e por que; e as equipes sem sucesso às vezes aprendem mais do que as que obtiveram sucesso.
Quais são suas expectativas sobre o futuro dos jogos de empresas?
Bernie Keys– Duas áreas influenciam meu pensamento sobre a ABSEL e o futuro dos jogos e simulações. A primeira é que a AACSB (Association to Advance Collegiate Schools of Business), maior organização credenciadora de escolas de negócios dos Estados Unidos, está considerando a possibilidade de avaliar as escolas utilizando como um dos critérios o uso de jogos e simulações. Adicionalmente, a Universidade de Harvard está planejando inserir jogos e simulações em muitos de seus estudos de casos não comportamentais e de estratégia. Eles estão contatando membros da ABSEL e solicitando cópias de demonstração dos jogos. Se a Harvard utilizar jogos e simulações nos seus estudos de casos, as melhores escolas de negócio do mundo irão segui-la.
Minha visão é a de que simulações, jogos e exercícios vivenciais irão permear muito de nosso ensino e desenvolvimento de gerentes e executivos por várias décadas. Jogos e simulações serão apresentados em vídeo e programas de Tecnologia de Informação (TI). Jogos e simulações serão abertos para competições globais, incluindo equipes de executivos, gerentes e estudantes nos principais continentes. Eles irão progredir porque são pedaços de experiências do mundo real dos negócios, comprimidos em pequenos espaços de tempo, que revelam as conexões entre causas e efeitos do mundo dos negócios, diferentemente de qualquer outra metodologia de ensino.