Ricardo R. S. Bernard, Ph.D. em Administração pela HEC Montreal e professor de jogos e simulações da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, fala sobre seus 17 anos de experiência com jogos de empresas e sua recente contribuição sobre o assunto em dois livros de renomados professores.
Comente sua experiência com jogos de empresa:
Ricardo Bernard – Tive o primeiro contato com jogos de empresas no final da década de 80 em uma disciplina de mestrado. Desde então tenho dedicado minha vida profissional ao tema. Realizei minha dissertação de mestrado sobre jogos de empresas. Coordenei equipes de desenvolvimento dos simuladores da Bernard, onde fui o responsável pela modelagem. Em 1995 comecei a ministrar as disciplinas de jogos de empresas para os cursos de graduação na UFSC, passando para especializações e MBAs e finalmente para o mestrado. A aplicação dos jogos de empresas em cursos in company foi uma complementação de minha formação, já que, apesar dos princípios serem os mesmos, os objetivos são diversos. Na academia o objetivo básico é a integração da teoria com a prática. Já, no meio empresarial, os objetivos podem variar da transmissão de conceitos gerenciais a objetivos mais comportamentais, tais como, integração departamental, ou seja, fornecer uma visão sistêmica da empresa, desenvolvimento de lideranças, seleção e desenvolvimento de trainees, ou mesmo objetivos mais lúdicos, como congressamentos anuais. Atualmente estou dedicando grande parte de meu tempo à solidificação dos jogos de empresas – também chamado de jogos de negócios, simulação empresarial ou simulação gerencial – tanto como um método educacional, quanto como uma linha de pesquisa.
Quais ações o senhor está desenvolvendo no sentido de solidificar o uso dos jogos de empresas no meio acadêmico?
Ricardo Bernard – Em países como os Estados Unidos, por exemplo, o uso dos jogos de empresas e as pesquisas sobre o tema já estão estabelecidos. No Brasil, somente a partir da década passada as instituições de ensino efetivamente despertaram para o uso deste método. A próxima etapa é aumentar o escopo das pesquisas sobre jogos de empresas, hoje basicamente limitadas a artigos de demonstração de modelos concebidos e suas aplicações. Uma ação concreta neste sentido foi a criação do Núcleo de Estudos em Simulação Gerencial – NESIG, cujo objetivo primordial é ampliar, e disseminar, o conhecimento sobre simulação gerencial / jogos de empresas através de pesquisa, com publicação de artigos e realização de extensões. Como coordenador deste núcleo, espero que o NESIG seja uma referência para professores de jogos de empresas, pois até o momento muitos deles sentem a falta de um referencial. Como conseqüência, acredito que o método possa estar sendo utilizado de forma inadequada em muitas situações.
Em que situações o método de jogos de empresas pode estar sendo utilizado de forma inadequada?
Ricardo Bernard – Muitos pensam que o simulador é o componente mais importante de um curso de jogos de empresas. Com certeza, sem ele uma disciplina baseada em gestão de empresas simuladas não poderia ser realizada; e o ideal é a utilização de um simulador que já esteja suficientemente testado para garantir que o software tenha o mínimo de erros possível, e o seu modelo esteja validado por seus usuários. Entretanto, o papel desempenhado pelo professor é fundamental no sucesso ou fracasso da disciplina. Caso o professor não tenha o perfil desejado para ministrar a disciplina, ou não esteja preparado para tal, o método perde muito de sua validade.
Qual seria então o perfil desejado de um professor para ministrar disciplinas de jogos de empresas?
Ricardo Bernard – Além das características comuns a todo professor, tal como didática, o professor de jogos de empresas deve ter ainda uma visão sistêmica do funcionamento da empresa, experiência empresarial e domínio do método. Visão sistêmica porque normalmente as simulações envolvem diversas áreas de uma empresa e um professor sem um bom domínio destas áreas pode transmitir conceitos insuficientes ou, o que é mais grave, conceitos equivocados aos alunos. Experiência empresarial porque o objetivo fundamental dos jogos de empresas no meio acadêmico é a integração da teoria com a prática. Conseqüentemente, um professor sem vivência empresarial pode ter dificuldades em fazer esta integração. Finalmente, o domínio do método envolve tanto aspectos gerais da metodologia, quanto o domínio do simulador a ser utilizado. Há alguns anos formatei um curso para capacitação de professores em jogos de empresas visando repassar o conteúdo mínimo inicial para utilização do método. Este formato está sendo utilizado pela Bernard para a capacitação de professores. Os cursos são ministrados normalmente para dois professores, sendo realizados em duas etapas: uma presencial e outra à distância. Com esta formatação pude transmitir minha experiência, direta, ou indiretamente, para mais de 200 professores. Com a criação do NESIG espero ser possível transmitir esta experiência para um grupo ainda maior de professores.
Sua contribuição em dois recentes livros seria mais uma forma de transmitir sua experiência?
Ricardo Bernard – Sem dúvida. No início do ano passado recebi convites de dois colegas para escrever capítulos sobre jogos de empresas em livros de suas autorias. O primeiro convite veio do professor José Carlos Marion em seu livro Metodologia de Ensino na Área de Negócios: Para Cursos de Administração, Gestão, Contabilidade, MBA editado pela Atlas. O segundo convite foi para incluir um capítulo sobre jogos de empresas na nova edição do livro Gestão Estratégica do professor Eliezer Arantes da Costa, editado pela Saraiva. Os livros já estão prontos e devem ser lançados neste semestre. O NESIG fará a divulgação, para os professores cadastrados no núcleo, dos dois livros, assim que eles forem lançados.
O senhor pode nos dar uma prévia do conteúdo de sua contribuição nestes livros?
Ricardo Bernard – O livro do professor Marion é dedicado a professores que lecionam em cursos ligados à gestão. São apresentados vários métodos de ensino, entre eles os jogos de empresas. Apresento conceitos básicos sobre o tema, o perfil desejado para ser um bom professor desta disciplina, como incluir o método no currículo dos cursos, uma programação da disciplina para cursos de graduação e pós-graduação, como avaliar os alunos, questões sobre a validação do método, e as ferramentas adicionais que podem ser utilizadas, tais como sistemas de apoio às decisões e ambiente de ensino à distância integrado às aulas tradicionais. O livro do professor Eliezer também apresenta conceitos básicos do método. Entretanto, o foco principal do capítulo sobre jogos de empresas é a utilização do método para fins de aprendizado de estratégias empresariais e sua utilização como laboratório de pesquisas em estratégia.