O chefe do Departamento de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Salvador (Unifacs), Manoel Joaquim Fernandes de Barros, explica como o currículo do curso de Administração foi montado tendo a simulação empresarial como central e quais as principais vantagens do modelo.
Na Unifacs, quais disciplinas são ministradas com os simuladores da Bernard?
Manoel de Barros – Não temos disciplinas específicas com o simulador. Com o modelo de Diretrizes Curriculares, não existe um currículo mínimo a ser cumprido pela instituição, mas sim conteúdos, habilidades e competências que precisam ser desenvolvidos no aluno. Atendendo a essas exigências, nós refizemos a grade curricular, modulada dentro dos Jogos de Empresa. Assim, a primeira fase é voltada para a área de Serviços, a segunda para a área Comercial, a terceira para a Industrial e a quarta para a área acadêmica de pesquisa, assessoria e consultoria, que são ligadas ao nosso pessoal de Administração Estratégica. Cada série tem uma disciplina que faz a integração de todas as outras. A primeira tem a disciplina de Gestão de Serviços, que é prioritariamente ministrada com os Jogos de Empresas, mas precisa ser apoiada pelas disciplinas de Marketing de Serviços, Finanças de Serviços, Recursos Humanos, etc. Então, a simulação serve de base para todas as outras disciplinas.
Qual a importância da implantação de disciplinas de simulação empresarial para qualificar o currículo de curso de Administração? E de que forma um currículo adequado às novas tecnologias pode atrair mais gente para a Faculdade?
Manoel de Barros – Acredito que, em parte, depende da qualidade do produto da Bernard e a outra parte depende da competência da Universidade. A Unifacs começou com o curso de administração há 33 anos e sempre foi conhecida pela qualidade do curso. Essa competência da Universidade agregada a uma ferramenta que permite potencializar a formação faz com que se consiga atualizar esse tipo de exigência de qualidade de ensino e manter a qualidade do curso com parâmetros de sofisticação maiores. No caso da Unifacs, a ferramenta tem um diferencial em relação a forma como fomos classicamente apresentados a ela. Nós não fazemos avaliação com simulação empresarial. Os jogos de empresas são usados como ferramenta para ajudar a aprendizagem acontecer.
Quais as vantagens de não se dar nota aos alunos?
Manoel de Barros – Eles ficam mais abertos a errar e é errando que procuram o professor para saber que tipo de decisão tomar.
O que muda no relacionamento professor/aluno com a utilização dos simuladores em sala de aula?
Manoel de Barros – Todo o trabalho que o professor precisava fazer de sedução dos alunos, usando uma abordagem didático-pedagógica mais ativa e dinâmica para aumentar o interesse do aluno no assunto discutido, hoje é feito pelo uso da ferramenta de simulação. O caráter lúdico que ela tem, de o aluno poder participar, interagir e de o professor poder proporcionar a oportunidade de todos, ao mesmo tempo, discutirem um determinado conteúdo, faz com que essa sedução evolua de uma maneira natural. O fato de os estudantes usarem o sistema implica em que, agora, são eles que procuram os professores na busca do conhecimento e os professores não precisam a todo momento tentar seduzi-los.
Porque a Unifacs decidiu ministrar disciplinas com o uso dos simuladores já a partir das primeiras fases? Quais as vantagens disso?
Manoel de Barros – O que a gente procura é tentar socializar a discussão sobre o uso de novas técnicas de ensino. Para a formação da nossa grade curricular, foram envolvidos professores do mestrado, o Núcleo Técnico-pedagógico da Universidade. Veio deles a discussão de como seria apresentado o conhecimento aos alunos. A nova abordagem trata, na primeira série, de conhecimentos menos complexos até chegar, na ultima série, em conhecimentos mais complexos. Por isso, o foco da primeira série, do ponto de vista espacial, é lidar com a realidade de Salvador e da região Metropolitana. Dali, o aluno avança para a Bahia, para o Nordeste, etc. Na primeira série procuramos tratar de acontecimentos do ano e dali por diante se procura tratar de temas mais antigos. Isso tudo como diretrizes, não como uma coisa fechada. É assim que, aos poucos, o professor vai tornando mais complexo o conhecimento do aluno. E ali a coisa acontece do ponto de vista de organização. Na primeira fase a gente vai conhecer pequenas empresas, depois as médias e depois as grandes, multinacionais e etc. A formação do currículo foi a conjunção do esforço de várias pessoas, profissionais da área técnico-pedagógica, professores do mestrado e da troca de experiência em encontros de Administração.
Porque a Unifacs começa com a utilização da simulação de serviços e depois passa para a comercial e a industrial?
Manoel de Barros – Porque na região metropolitana de Salvador a predominância é de empreendimentos no setor de serviços. Por isso é usado o simulador de serviços na primeira série. Na medida que se vai afastando de Salvador, a predominância é de empreendimentos no setor comercial, e por isso utilizamos o Simulador Comercial no segundo ano, e assim por diante.
Quais as diferenças na aplicação das disciplinas com os simuladores comercial, industrial e de serviços ?
Manoel de Barros – Evidentemente, a natureza do negócio. Mas há, também, a maneira como se utiliza o simulador. Existem inúmeras maneiras de se aplicar complexidade e objetivos pedagógicos diferentes. Independente da natureza do negócio, como, na primeira fase, focamos a simulação de serviços e pequenos negócios, o simulador serve, principalmente, para despertar a vontade do aluno para o conhecimento. Na segunda série, há uma exigência maior do ponto de vista do aprofundamento do conteúdo e numa perspectiva de mais longo prazo. Na primeira série, por exemplo, discute-se com o aluno coisas mais simples como a administração de caixa. Depois, começa-se a lidar com coisas como contas a pagar, contas a receber, uma coisa de médio prazo. Na terceira série vai-se falar de movimento de caixa, coisas de longo prazo. A grande diferença está na maneira como se utiliza o simulador, e para isso o céu é o limite. Existem professores que utilizam para enfocar mais a gestão financeira, outros para a gestão de RH. Ali eles aprofundam as discussões sobre as decisões a serem tomadas em cada uma das áreas sem aprofundar-se em outras. Já os professores das disciplinas mais gerais procuram fazer a integração entre todas as áreas. No segundo semestre a gente começa a usar o SAD (Sistema de Apoio às Decisões). A idéia é, uma vez dominado o funcionamento da organização de uma empresa, passar a discutir interação no mercado, competitividade, a própria configuração de como as coisas vão surgindo de acordo com as decisões da própria empresa, a discussão dos indicadores macroeconômicos com a utilização do SAD.
Porque razão a Unifacs escolheu os simuladores da Bernard?
Manoel de Barros – Porque as outras ferramentas que utilizamos eram de propriedade de algum professor…uma planilha de Excel ou coisa parecida desenvolvida pelo próprio professor. E isso não nos possibilitava socializar a ferramenta para toda a instituição. A nossa expectativa na época era ter, através dos simuladores da Bernard, uma ferramenta que apresentasse um nível de amadurecimento e desenvolvimento bem constituído e que, ao mesmo tempo, nos desse uma perspectiva de continuidade. Porque a pior coisa que existe é investir numa ferramenta e ela, de uma hora para outra, ser descontinuada ou a empresa partir para outro tipo de negócio. Como vimos consistência na atuação da Bernard, primeiro adquirimos um simulador industrial. Começamos a utilizar, ter novas experiências e, a partir do momento que começamos a descobrir as possibilidades pedagógicas da ferramenta, investimos nos setores de Serviço e Comercial.
Como a simulação empresarial pode ajudar os alunos a melhorarem o desempenho tanto dentro da universidade quanto na busca por um espaço no mercado de trabalho?
Manoel de Barros – Um testemunho que eu posso dar é que, na implantação da terceira série, nós professores tivemos uma discussão acalorada por conta de rever os conteúdos, porque o nível dos estudantes estava acima do encontrado no modelo anterior de formação. Como, desde a primeira série, trabalhamos disciplinas profissionalizantes, os alunos vêm com uma base de conhecimentos muito mais consolidada e exigem muito mais do professor nas séries seguintes. Isso não acontecia no modelo anterior, quando não usávamos essa orientação de trabalhar com atividades mais profissionalizantes com apoio dos Jogos de Empresas. Os alunos tinham uma formação prática muito mais frágil.
Qual a importância dos Cursos de Formação de professores em simulação empresarial para a qualidade das aulas com o uso dos simuladores?
Manoel de Barros – A principal vantagem o professor poder discutir com o desenvolvedor da ferramenta. Acho que o sucesso da Bernard se deve parcialmente à qualidade do produto e parcialmente ao fato de estar vendendo um serviço de tecnologia educacional. O software em si é um excelente suporte para se construir isso, mas o mais importante é agregar uma comunidade interessada nessa tecnologia educacional, que possa trocar experiências e enriquecer as diversas formas de se ter uma natureza mais efetiva do ensino da administração. O importante é puder discutir formas criativas, interessantes, motivadoras e desafiadoras da utilização dessa tecnologia educacional. Vai-se buscar a utilização dos Jogos de Empresas pela qualidade que a ferramenta dá na formação de administradores. Porque realmente se consegue fazer com que certas competências e habilidades sejam verificadas no final de um processo.