A resposta pode parecer óbvia uma vez que a metodologia de simulação tem por objetivo fazer com que seus participantes aprendam como uma empresa funciona. O problema é que, quanto mais próximo da realidade, mais complexa a simulação se torna, dificultando o seu potencial de aprendizado. Explico: para se aproximar da realidade, mais variáveis são necessárias nos modelos de simulação. Entretanto, quanto maior o número de variáveis, maior a dificuldade em identificar as relações de causa e efeito, fator fundamental para que o aprendizado ocorra. Por exemplo, a lei da demanda, muito utilizada no ensino da economia, depende de apenas duas variáveis: preço e demanda. Com elas os alunos aprendem que preço alto reduz demanda, enquanto preço baixo aumenta demanda – um conceito simples de entender, embora existam outras variáveis que afetam na demanda por um produto.
Meu amigo Hugh Cannon, professor na Wayne State University, escreveu um artigo muito interessante sobre o tema, em que discute o paradoxo da complexidade em jogos de empresas. Basicamente o paradoxo expressa o dilema dos designers de simuladores empresariais: eles querem tornar os modelos mais próximos da realidade, mas, à medida que avançam nessa direção, criam simuladores complexos, o que acaba prejudicando a sua eficácia como ferramenta de aprendizado. Em virtude deste paradoxo, existe uma controvérsia na academia sobre qual é o melhor simulador: o simples (até 30 variáveis de tomada de decisão) ou o complexo (acima de 30 variáveis).
Então, como devemos tratar o paradoxo da complexidade em sala de aula? Voltemos à lei da demanda. Os simuladores normalmente definem a demanda utilizando mais de uma variável (preço, prazo, juros, propaganda, força da marca, crescimento da economia, etc.). Assim, quando um aluno questionar por que a sua empresa teve uma demanda tão baixa, deve-se primeiramente verificar se ele tem conhecimento de todas as variáveis que afetam na demanda simulada. A seguir deve ser analisado qual variável teve o maior impacto na demanda. A análise pode ser inconclusiva, ou seja, a relação de causa (decisões tomadas pela empresa) e efeito (a pouca demanda) pode não estar clara. Temos então duas explicações complementares a fornecer ao aluno: (1) A demanda é determinada por um conjunto de variáveis, inclusive com interação entre elas, o que impede definir com exatidão a relação de causa e efeito; (2) Algumas variáveis que determinam a demanda da empresa dependem das decisões tomadas pela concorrência e que muitas vezes não são de conhecimento da empresa.
O professor deve completar sua explicação fazendo uma associação da simulação com a realidade. Na vida real a empresa muitas vezes não sabe a causa da variação de sua demanda. Seus gestores devem então utilizar procedimentos e ferramentas que auxiliem na identificação dessa variação a fim de aprimorar o processo de tomada de decisão. Por exemplo, utilizar pesquisas de mercado que forneçam o perfil de consumidores e as políticas de vendas das empresas concorrentes (pesquisas existentes nos simuladores que utilizo).
Cabe ao professor expandir a conversa com o aluno, abordando a discussão sobre outras variáveis que podem impactar na demanda, as quais não estão previstas no simulador, e como elas poderiam ser tratadas. Veja que, a partir de uma simples dúvida do aluno, muito conhecimento pode ser incorporado, não apenas a ele, mas também à sua equipe, ou à turma, dependendo do nível de discussão feita pelo professor (com relação a este assunto, sugiro a leitura da matéria que publiquei sobre as formas de aprendizado na simulação).
Para finalizar esta matéria, gostaria de ressaltar que o foco da simulação gerencial é sempre o aprendizado do aluno. Portanto, o melhor simulador não é o mais fiel ao mundo real, mas sim aquele com que o professor consiga transmitir a mais completa noção acerca da realidade empresarial.
Professor Ricardo Bernard, Ph.D.